Críticas, incertezas, descrença. Sensações que envolveram o mercado financeiro e boa parte dos brasileiros quando Luis Inácio Lula da Silva venceu as eleições presidenciais no ano de 2002. O país elegia um sindicalista que incansavelmente batia na mesma tecla, de que o salário mínimo era uma forma eficiente de promover distribuição de renda justa no país.
O que poderia soar aos ouvidos dos mais céticos como um discurso eleitoral e sem teoria econômica mostra-se, na consolidação deste seu último mandato, uma verdade comprovada com números. Uma das revistas de economia mais importantes do país, a EXAME trouxe em matéria recente uma análise detalhada da evolução do salário mínimo brasileiro, mostrando o resgate de sua função social.
O veículo constata que o poder de compra do salário mínimo mais do que dobrou em 16 anos e hoje perfaz o suficiente para aquisição de quase duas cestas básicas (1,81) contra 0,76 no início do estudo. O trabalho demonstra que o valor do salário vem interferindo decisivamente na distribuição de renda através da contribuição de servidores públicos, aposentados e idosos à Previdência, e também pelos trabalhadores que vem sendo beneficiados com a ampliação do poder aquisitivo de seus vencimentos.
Ao contrário do que se pensava, os bons números da economia brasileira desta última década não impulsionaram sozinhos a melhora na distribuição de renda entre os cidadãos mais pobres. A valorização do salário mínimo é parte integrante desse fenômeno social, raramente visto nos países em desenvolvimento.
A transferência de renda, além de melhorar efetivamente a vida dos brasileiros que vivem na base da pirâmide social, contribui significativamente para incrementar a imagem do Brasil perante o mundo. Fortalece seu poder de negociação internacional, alavanca índices tomados como referências mundiais, como o grau de risco de investimento. Enfim, alimenta uma cadeia interna de bons resultados que eleva o país a novos patamares.
Uma das teses que cai com a constatação da elevação do poder aquisitivo do salário mínimo é de que a sua evolução poderia ser uma arma contra o próprio trabalhador, empurrando mais gente para a economia informal. O próprio governo não só expôs esta preocupação como agiu, estimulando os próprios informais a contribuírem com a Previdência e oferecendo-lhes a possibilidade de receberem uma contribuição na aposentadoria. E o país respondeu positivamente a este movimento, contratando mais e diminuindo os números da informalidade.
Os ganhos sociais da mudança vão desde a aquisição de um novo eletrodoméstico à possibilidade de realização de programas de lazer em família. Interferem também na cadeia econômica com a geração de empregos na área de serviços ou no aumento do consumo de comércios de bairro, por exemplo, geralmente compostos por micro e pequenas empresas.
Enfim, são dados que mostram que o sindicalista tinha razão. Talvez Lula não tenha se utilizado da melhor forma de expressão de sua teoria, à época. Mas a persistência na condução da política de salário mínimo fez a estatística falar por si só.
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